sábado, 30 de junho de 2007

Inversão

Quando não se tem os pés, vão as mãos. Mas quando não se tem as mãos, o que se vai? O mundo é muito grande para poucas perspectivas.

Realmente, a liberdade de expressão merece ser liberta de todos, por todos e para todos. Não se pode negar um fato já existente ( só se este for negado por um outro fato que surgirá).

Querem caminhar com as mãos e escrever com os pés. Não se deve inverter as funções já premeditadas,se não, do que adiantaria tantas leis,tantos conceitos? Indubitavelmente, de hoje para os anos seguintes, começarão a pensar com a boca e a falar com a mente.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

MundAna

Ana é uma moça de poucas histórias: não ri e nem chora,
não anda e nem corre.
Ela se firma em seus pensamentos,
esquece do resto do mundo.
Não sabe que tem pai, mãe, irmão,
perna e mão, não sabe.
Quem dera Ana ser ave,
ter asas,
mas por poucas páginas ela é o que quer ser.
Tenta entender a si mesma,
seu espírito retraído e culto,
estranhamente calmo e puro. Pobre Ana.
Não sabe dançar a dança dos homens:
ganância pra direita, vingança para a esquerda. Não sabe.
Ela imagina ter cérebro, pois sabe o que é errado e certo.
Tem medo de tudo. Bem, quase tudo.
Esconde-se atrás de seus livros,
atrás do seu rosto que clama abrigo.
Ana sabe que se abrir os olhos,
enxergará o mundo como ele é.
Talvez todos pudessem ser Ana,
que não faz o bem,
mas não faz o mal,
que não tem ninguém,
mas tem a si mesma,
que não faz o certo,
mas não o errado,
que sente que a paz existe ao seu lado,
que enfrenta tudo mesmo quando tem nada,
que enxerga o mundo do jeito que ela quer.
Falando no mundo,
ele deveria se chamar Ana.

segunda-feira, 25 de junho de 2007

plano (in)falível

Olhou tudo ao seu redor:
cadeiras no lugar, mesa divinamente posta, velas prontas para serem acesas e um fundo musical aconchegante e romântico.
Ele esperara 1 ano por este momento. Horas e horas de planejamento inerrante. Filtrou seus pensamentos em eventuais surpresas:
a vela poderia cair e queimar as pétalas de rosa ao redor da mesa, a rolha do champagne talvez trafegasse diretamente para o olho dela, o CD, quem sabe, sofreria algum dano e o prato principal poderia estar demasiadamente salgado.
Imaginando alguma desgraça possível, preparou um extintor de incêndio ao lado do sofá, uma bolsa de gelo dentro do refrigerador, outro CD com as mesmas canções e cozinhou mais um prato tão especial quanto o primeiro.
Trajado com uma roupa impecável e com um daqueles perfumes de marca pelo corpo, Tadeu sentou-se e esperou.
Esperou. Esperou. Esperou. Nada.
Como escutasse a esperança dar sinal de vida, notou que era o telefone tocando e, rapidamente, o atendeu:
" Tadeu,amor, o carro está com algum defeito e não quer ligar. Você pode vir me buscar aqui em casa?"
" Claro, linda. Vou sair daqui agorinha. "
Pacientemente, ele pegou a chave do carro e partiu ao encontro de Júlia.
Chegando lá, subiu até o seu apartamento e obteve uma grande surpresa:
uma linda mesa posta com pratos aparentemente suculentos, velas devidamente acesas sobre o centro, flores enfeitando o chão e uma música divina tocando. Eles se abraçaram amorosamente e foram concluir os planos dela.
Sentaram para comer e a comida estava deveramente salgada.
O CD estava arranhado justamente na melhor canção.
A rolha do champagne voou diretamente para o olho de Tadeu, que num reflexo de dor, esbarrou nas velas que queimaram as flores.
Uma noite surpreendente para Júlia,claro.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

mal amado

Não passo do certo e do errado,
se fico, eu finjo que passo,
e sigo querendo voltar ao retorno do ser e do ter,
o contorno parece dizer:
"Cara,para. Pega a estrada pra casa,
volta pro teu caminho,
não fique sozinho,querendo consolo
do céu e da lua.
Te firma naquela, a tua."
Desando e corro atrás do não sei,
parece que esqueço que amei.
Me tomo da dor,euforia daquele abraço,
um bom dia.
Me faço do acaso do encontro,
olho e choro, quanto pranto!
Tento esquecer, só me engano.
Que agonia no peito!
Hoje digo: não tem jeito.
Amo aquela que me corrói,
bem feito pra mim.
E agora? É assim que me encontro?
Verdade.
Não foi por maldade.
Vaidade,
que troquei a minha saudade
por outra qualquer,
outra vez.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

moral de hoje.

João olhou para cima e decidiu: é hoje!
Pegou o copo de plástico, encheu de água ardente e tomou num gole só.
" Viu, Marcos? Eu disse que seria tiro e queda."
Esqueceu os seus problemas, dançou até os pés latejarem,
encontrou um novo amor e dormiu.
No outro dia, lembrou que não tinha emprego,
sentiu uma grande dor de cabeça e nas pernas,
abriu os olhos e pensou: " O que o Marcos está fazendo comigo nessa cama?!"


Moral da história: Se beber, beba sozinho.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Disfarce.

Do espirro fez-se um beijo,
e do mesmo um entrelaço,
um casal apaixonado discutindo o amor.
No momento:
olhos quentes,
as mãos tremem,
já não sabem o que sentem,
só se sentem.
Não vêem o tempo passar,
eles desejam estar onde quiserem ficar
e o relógio no mar,
bem lá no fundo, na areia.
A moça: uma linda sereia.
O moço: um moço qualquer.
E depois, de pouco à pouco,
não sabia quem à quem os era,
se o moço com seu fogo,
ou a moça na espera.
A briga foi aumentando,
mãos se encontram, desencontram.
Onde as pernas agora estavam?
Os olhos bem quentes,coitados,
depois de todo o alvoroço
foram ficando fechados.
Se acalmaram.
Os dois se afastaram.
Já não havia discussão,
um pra um lado,
o outro pegou um cigarro,
não deram mais nem uma mão.
Foi preferível dormir,
já que a emoção
também o fez.
E amanhã, creio, talvez,
um outro assunto vai visitar
os corpos, num belo pesar de copos de vinho.
E estes, sozinhos,
mascarados de espirro,
chamarão o beijo amigo,
disfarçado de amor.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Auto-ignorância.

Um dia, Jorge me disse claramente:
"Arreda-te daqui."
Sem pensar muito,fiz as malas e parti sem horizonte.
Hoje não sei onde estou, já não tenho amigos e companhia alguma (tirando o vira-lata que me acompanha em qualquer estrada).
Sinto-me muitas vezes só e vazio. Arrependido.
Se no passado eu pensasse duas vezes, escutaria o Pedro:
" Desfrute do que tens aqui primeiro. "
Jorge, Jorge, que culpa tu carregas? Nenhuma.
Fui tão ignorante que segui o caminho errado.
Minhas próprias escolhas me deixaram furioso.
Sim. Que grande ignorância.

sábado, 16 de junho de 2007

Por fim.

O presente mais formidável que recebera foi aquele.
Paulo não podia crer no que seus olhos presenciavam: era o seu carro.
Deixaria a dependência locomotiva dos pais e partiria para o conhecimento de si mesmo.
Não podia desprezar a idéia comemorativa que lhe veio à mente: festejar com os amigos.
Contactou o pub mais distante e reservou mesas próximas ao palco.
Chegada a hora de jactar-se para seus companheiros, Paulo não demonstrava sequer timidez.
Parecia um motivo banal para festejo, mas ele sabia que de todos aqueles, foi o único a ser presentiado por tal sorte, afinal poucos aos 18 anos
ganham um carro.
Gargalhou até dizer basta e bebeu até dizerem: pare.
Já era tarde da noite e, cansado de tanta comemoração, decidiu deitar em sua cama.
Entrou no carro e aproveitou a velocidade que poderia alcançar.
Na ilusão de estar no total comando, perdeu o controle do volante e não conseguiu desviar do que vira.
Sua noite acabou ali. Sua festa terminou ali. Mas afinal, para quem Paulo se vangloriaria na hora? Não é por mal, mas seu presente não seria mais o
seu agora.





Pela noite puritana, Clara cantava, rodava sua saia e jogava charme para quem passasse.
Com fitas no cabelo, ria em extrema felicidade e já não sabia onde estava.
Pouco importava onde estava, seu estado corpóreo era maior do que qualquer percepção local.
Cambaleava ao som dos tambores, molengando pelas calçadas, quando magicamente arrebitou-se, tentanto alcançar as estrelas.
Já naquela grande molecagem, caiu no pileque e insuflou sua euforia aos demais espectadores que a censuravam sem pudor.
Clara, quando escutava o cochicho do povo, tornava-se uma árdua defensora do psitacismo e fazia uso dele.
O mundo parecia falecer diante de seus olhos, mas era sua própria alma que estava desfalecendo ali mesmo.
Exausta do belo exibicionismo, agora perguntava-se onde estava.
Caminhou sem rumo algum, à procura de uma avenida familiar pelo meio da rua.
O brilho de Clara foi arrebatado repentinamente por uma opacidade sem descrição.
Sua noite acabou ali. Sua festa terminou ali. Mas afinal, para onde a Clara iria? Não é por mal, mas onde a Clara estava?

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Compulsivos "não"

Não é revista nem jornal, quem dirá um bilhete na aula chata? Escrevo não na esperança de um possível leitor (que não eu), muito menos na luta pela conscientização humana (se for o caso,grata), então qual seria a finalidade? As palavras aqui escritas atingirão cada um de diferentes maneiras, assim como uma 38 atinge um peito, a pistola atinge outro (não vejo sequer diferença em suas características, porém todas alcançam o mesmo objetivo: matar ).
Não pretendo cansar vistas com grandes postagens (disse que não pretendo, não que o farei ), nem cansar a mim mesma (devo dizer que já estou me contradizendo).
Depois de muitos "não", necessito de um grupo de compulsivos "sim", mas ele não me vem a mente, então o deixarei para um próximo dia. Já que ditei meus propósitos, ou talvez os "não propósitos", a retirada é de extrema proximidade.



[ Espero sinceramente que a preguiça não se apodere de mim e eu possa continuar escrevendo durante uns anos ]

* Percebe que terminei com mais um "não"? *